quarta-feira, 5 de maio de 2010

corpo válido ou validado

e foi assim que ela depois
foi assim
foi andando
foi dizendo
desdizendo o que lhe disse
não devendo ter dito
amanhecendo mais fora de casa
perdendo raízes
fazendo valer
emudecimentos
sem perdas
sem lágrimas
foi assim
assim que deixámos
partimos
morremos pela metade
refizemos a falta de amarguras
dedica-mo-nos
devíamos ter-nos dedicado sempre
a isso
a esse assim
que foi andando
e ela sozinha
nas ruas grandes
cheias de gente
foi assim
amanhecendo mais fora de casa
e embora devamos
todos separar-nos um ou outro dia
valem-me agora
sempre valeram
foi assim
todas as tardes
em que valeu o passado
válido por ter passado
por estar acabado
por não me existir
não me caber
vale a minha janela
vale o meu corpo
contra ela
contrariado ou não
mas controverso sim
e apaixonado sim
pelos sons
pelas palavras menos doces
dos meus cinco anos
decadentemente encontrados
agora à porta da minha casa
mas transformados
na fantasiosa
fita que fiz
feliz
menos desfeita
mais fazedora
fatídica noite de sorte

e eu estou nua
e a noite está quente

bebamos este copo de vinho

vim-me

2 comentários:

Anónimo disse...

lindo e tão real que quase se pode tocar.
adorei como imprimes o sentimento no acto e no estado.
sabes sentir, e sabes escrever o sentir. quase sinto contigo. continua que quero sentir mais.

alexander david disse...

LAIKA