A beleza, o borderline e o sublime
Ver-te assim
tantos dias, sem luz,
A casa a crescer
com as pilhas de livros
Que espalhas em
grandes montes há procura de uma razão
Que alguém tenha
escrito para não te sentires tão triste
Eu não posso dizer
que alguma vez possa ter realmente compreendido
O vazio e a dor
que tento decifrar nos teus olhos
Porque me assusto
e tenho medo de ir contigo também
Os teus olhos
assustam
A tristeza é
inegável
Antes era pior
Antes dos livros
O pior era quando
as peles da tua cara descaíam para dar lugar aos olhos absurdos
Agora não
acontece tanto
Deitavas-te com
as peles descaídas dentro de 2 metros quadrados
Andavas,
berravas, choravas
Porque todo o
demais espaço era para ti um sofrimento maior
Não sei como nunca
te mataste
Já questionei
isso muitas vezes, em quê? 10 anos, juntos amor!
E tudo acerca de
ti
e não é possível
ser de outra maneira
Também já me
perguntei como nunca deixei de te amar
O amor parece
mesmo ser assim, é amor, fica
Há quem tenha a
sorte de o encontrar.
Dava tudo para
que o Paraíso fosse a repetição infinita
Do amor que
fizemos, das praias que molhámos com os nossos suores
Do teu sorriso
quando te sentes amada por mim e por tudo o que nos rodeia
E como podes ser
tão feliz nuns dias
E
depois transformares-te numa deusa grega vítima de uma tragédia tão severa que
não há
Consolo que te
sirva
E é essa a
palavra, consolo mulher.
Onde e como te
poderei alguma vez arranjar consolo
Tu és forte
Se não fosses eu
nunca teria aguentado tanto
Volto a dizer que
não sei como nunca te mataste
Depois recuperas doí menos e assim amas-me mais
Eu fico mais
feliz
Na verdade ao
escrever-te este poema, esta tentativa de carta solta
Apercebo-me que
compreendo melhor todos os teus processos do que aquilo que pensava.
Sei quem és.
Parece que vens de outra planeta, pela beleza e pelos jeito de ser
pela
sensibilidade extrema.
Pelos olhos
amendoados e pestanas longas,
Quando estás com
as estantes arrumadas e cantas pela casa
O meu mundo é
ternura
Os teus olhos são
profundos e vejo-me a mim neles quando te aproximas
para me dares
beijos no nariz.
Sem ser nesses
tempos
Os teus olhos
assustam
Transtorno
de personalidade
Queria deixar
escrito antes de te deixar
Que te deixo
porque me venceu o cansaço de não seres bela todos os dias
E muitas das
vezes em dias que precisava mesmo de ti
Não posso amar-te
mais, não é útil para mim
A política, tu
sabes.
Mas quero dizer a
toda a gente que me despeço deste mundo
com uma certeza. Eu é que não sou tão forte como tu e não aguentei, tu sim,
aguentaste-te até hoje, todos os dias.
E eu sei que continuarás a aguentar
mesmo sem mim, meu amor.
Foram 10 anos de cumplicidade, terror e beleza sublime.
O que eu pretendo, é que toda a gente que leia isto um dia, saiba que eu
não fui capaz, mas é possível viver com um borderline.
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